Dandara, nossa paquita
'Meu maior sonho na infância e adolescência era ser paquita e eu fui', afirma Dandara Vital mulher trans
Dandara
Vital é carioca, tem 36 anos de idade e é fã da Xuxa. Encontrou o
amor em seu namorado Johi, que é homem trans e atualmente encena uma
peça teatral que conta sua história
Dandara
enfrenta os desafios de ser uma mulher transexual. Aos 36 anos de
idade, a carioca que é fã da Xuxa – e ainda idealiza o sonho de
ser paquita – encena o espetáculo teatral autobiográfico
“Dandara, Através do Espelho”. Embora o trabalho seja uma
representação de sua vitória, a atriz conta que precisou enfrentar
muito preconceito para se descobrir. Ela, que encontrou o amor em seu
namorado Johi, que é homem trans, chegou a ser expulsa de casa
quando se revelou para a família.
“Me aceitariam se eu fosse gay, mas ‘travesti não pelo amor de
Deus’. Diziam que eu estava deformando meu corpo. Dos preconceitos
que sofri, o familiar foi o que mais doeu'', afirma.
A
carioca conta que iniciou seu processo de transição de gênero por
conta própria, e iniciou o uso de hormônios femininos sem
orientação médica. Hoje, Dandara revela que o excesso de hormônios
trouxe a feminilidade tão esperada, mas não de uma forma saudável.
Apesar de nunca ter feito uma cirurgia, a atriz colocou silicone
industrial nos seios, quadril e glúteos em casa, com a ajuda de uma
“bombadeira” – pessoas que aplicam silicone industrial para
fins estéticos. Ciente dos riscos que o material traz para a saúde,
ela se arrepende e não recomenda o uso. Confira
mais detalhes na entrevista:
ALÉM DO ESPELHO – Quem era você antes de se descobrir Dandara? Como você se sentia?
“Eu
fui a musa inspiradora de ‘Alice no País das Maravilhas’
(risos). Sempre me identifiquei com o universo feminino e isso era
muito natural para mim. Eu só percebi que as pessoas me achavam
"anormal" quando começaram a apontar o dedo,
principalmente na escola, onde meu apelido na adolescência era
‘Bambi’. Apesar de tudo, eu não sofri porque vivia tudo o que
queria na minha imaginação. Eu entendia que no Natal, por exemplo,
o Papai Noel não traria o presente certo, que na escola não podia
usar saia de prega e os esportes que eu fazia não podiam ser jogados
com as meninas, mas não entendia ser uma pessoa trans. Minha família
era muito conservadora e cresci apreendendo que gostar de rosa era
coisa de menina e que não podia sentar de pernas cruzadas ou ficar
com a mão na cintura porque logo alguém gritava: ''FICA IGUAL
HOMEM!''. Olha que loucura, quando nasci disseram que eu era menino,
mas sempre gostei de “coisas de menina”. Quando via uma travesti
sentia fascínio e repulsa, era uma confusão na minha cabeça de
criança.”
ALÉM DO ESPELHO –
Quando você percebeu que era uma mulher trans?
“Um
dia uma travesti foi morar em rua próximo da casa dos meus pais e eu
passei a frequentar sua casa. Ali eu percebi que era uma travesti.
Tinha que adequar o meu corpo a minha mente, mas ainda sim as minhas
maiores referências eram os rótulos que a sociedade impõe sobre as
travestis.”
ALÉM DO ESPELHO – Você já sofreu algum preconceito por ser uma mulher – algumas mulheres transexuais reclamam do assédio dos homens nas ruas – ou por ser uma mulher trans?
ALÉM DO ESPELHO – Você já sofreu algum preconceito por ser uma mulher – algumas mulheres transexuais reclamam do assédio dos homens nas ruas – ou por ser uma mulher trans?
“Eu
nunca percebi se sofri preconceito por ser mulher porque, antes de
ser mulher, eu sou travesti. Hoje, ninguém sofre mais preconceito
que a travesti. Se ela for negra e não tiver 'passabilidade', que é
quando
a pessoa trans é lida pela sociedade como se fosse uma pessoa cis, o
preconceito aumenta. Quanto ao assédio dos homens, as travestis e as
mulheres transexuais são vistas de forma sexual, perfeitas para
serem amadas de forma escondida.”
ALÉM DO ESPELHO – Você é uma militante pela causa trans e aborda muito a relação das pessoas transexuais com o mercado de trabalho. Na sua opinião, falta oportunidade para as pessoas transexuais se colocarem no mercado de trabalho? Por que isso acontece?
“90%
das travestis e mulheres transexuais estão na prostituição. O
número de homens trans que são garotos de programa vem crescendo.
Não existe nenhum problema com a prostituição, o problema está
quando esse é o único caminho e, no caso das travestis e
transexuais, este é o único caminho, com algumas exceções.
Emprego formal é dignidade! Em um processo seletivo, a
transexualidade não pode sobressair a capacidade e isso acontece na
maioria das vezes. Um emprego formal melhora a autoestima e eu já
desisti de muitas coisas por falta dela. Só consegui entrar em uma
sala para estudar teatro depois que comecei a trabalhar.”
ALÉM DO ESPELHO –
Como
é ser uma mulher trans no Rio de Janeiro?
“Não
é muito diferente dos outros lugares. Violência física, verbal,
falta de oportunidades e um número muito alto de assassinatos de
pessoas trans. Esse ano, uma trans que conhecia foi morta com dois
tiros. Ela era muito tranquila, com certeza foi um crime de ódio.”
ALÉM DO ESPELHO –
Para
você qual é a importância de uma peça que aborda o universo trans
para sociedade?
“Hoje
faço parte de um grupo de pessoas trans que criou um manifesto
exigindo a REPRESENTATIVIDADE, o/a personagem trans tem que ser
representado por uma atriz ou ator trans, porque não estão nos
dando oportunidade de interpretarmos nossas histórias. Lembra quando
pessoas brancas pintavam a cara para interpretar pessoas negras, o
black
face?
Então, vivemos o nosso "black
face trans".
Tudo bem que o ator é livre, mas a arte jamais pode sobressair ao
poder de transformação, então é simples: se o ator branco for
chamado para fazer o papel de um negro, negue! Se o ator cis é
chamado para fazer trans, negue!'
O
espetáculo “Dandara, Através do Espelho”
Sinopse: Dandara Através do Espelho é uma peça de teatro autobiográfica criada a partir do diário da atriz transexual Dandara Vital. Na peça, o sonho de Dandara é fazer um filme sobre a sua vida narrando os desafios que enfrentou no seu processo de transição. Com a ajuda de Pedro, um estudante de teatro, ela assume o desafio de tirar a ideia do papel. Com uma câmera na mão as memórias e o espaço se mesclam numa mistura de realidade e ficção. O espetáculo, que tem como base a combinação dos dispositivos da Linguagem Cinematográfica e do Teatro Documentário, além de narrar a trajetória de vida de Dandara, propõe um debate sobre a representação do corpo trans na arte. A quem pertence o corpo de Dandara e a quem é permitido representá-la?
Ficha Técnica:
Realização:
Prática de Montação
Direção:
Diêgo Deleon
Assistente
de Direção:
Rodrigo Menezes
Dramaturgia:
Peter Franco
Elenco:
Dandara Vital, Pedro Bento
Direção
Musical:
Diogo Vitor
Direção
de Video:
Iury Carvalho
Iluminador:
Anderson Ratto
Cenário
e Figurino: Alice
Cruz
Programador
Visual: Rodrigo
Menezes
Produção
Executiva:
Carolina Caju
Produção:
Pé de Vento Produções
* Yasmim Castro e Gabriela Sousa
O antes e depois de Dandara realizar o´processo de mudança de gênero. Na foto da esquerda, Dandara, imita a contracapa do CD dá Xuxa. |
Dandara com seu namorado Johi Farias. |
Dandara curtindo com o seu namorado Johi Farias. |
Newest Slots to Play | Lucky Club Live Casino Site
ResponderExcluirCheck out the latest list of Newest Slots in the UK: ✓ Newest Slots ✓ Best New Slots ✓ Top New Slots ✓ Best New Mobile Slots ✓ Top luckyclub Casino Sites